sábado, 9 de junho de 2018

VERSANDO SOLIDÃO
A solidão que me persegue, me seduz e me fascina
Me encanta quando há noite
A solidão me acompanha
Me faz só quando estou junto
E me faz junto quando estou só
Á solidão é meu apelo
Que me deixe um momento
Que me compõe um instante
Que me largue um segundo
Que me cuide se descuido
Mas que seja companhia quando não houver todo mundo
Que preencha o vazio
Que ocupe meu escuro
E que não deixe espaço
Vagueando no meu mundo

domingo, 3 de junho de 2018

Ausência ...
De repente o teu sorriso tinha som
A tua boca tinha gosto
E a tua pele tinha cheiro

Fui juntando seus pedaços
E você se refez dentro de mim

Onde foi que se perdeu?
E por que te reencontro?
É abismo teu silêncio
Insanidade tua ausência

De repente em meu rosto
Liquefeito em ribanceira
Foi você que se esvaiu
Dos meus olhos fatigados

Fui doendo de você
Nos pedaços que me restam


Como vai sair assim?
Bruscamente insensato?
Se não cabe mais em mim
Te procuro e não me acho

sábado, 11 de fevereiro de 2012

HOSPEDEIRA DE SOLIDÃO

Farei de meu peito um templo de aço
Cujo metal seja lâmina pungente
Que suporte qualquer solidão
Que transporte a dor de te perder

Farei de minha cútis o metal sádico
Que não seja capaz de sentir a leveza do toque amoroso
Incandescente e fria
Mórbida e insensível
Tal qual a lápide funérea
Impregnada de lembranças póstumas

Farei dos meus olhos luz opaca
Que cala a noite sombria
Que toca a retina fecunda e penetra na alma
Onde o brilho se opõe e se oculta o querer

Farei dos meus lábios sedentos a secura metálica
Onde a saliva submerge calidamente
Para ocultar todo o sabor do teu querer

E quando o meu corpo se metazilar por inteiro
Estará finalmente oculto tudo sentimento
Enclausurado em um coração de metal
Onde não se pode libertar o hospede gentil
Que despertou tantas utopias

Farei de meu ser o ser metalizado
Onde o amor não penetra
E a solidão impera.

Gisláide Sena

terça-feira, 3 de maio de 2011

TERRA DOS ELEFANTES COLORIDOS

Sou um retirante, porém, não nordestino. Venho de uma terra onde tudo era para ser novo, a Terra dos Elefantes Coloridos. Terra de gente alegre acolhedora, a maioria veio do sul com a bagagem cheia de esperança e o coração repleto de saudade, mas todos que chegavam ou nasciam na Terra dos Elefantes Coloridos eram acometidos de uma paixão por esse reino e por ali iam ficando, mesmo que tudo ao redor se transformasse, mesmo que o tempo passasse, as árvores nascessem e as flores murchassem e frutificassem. O povo se acomoda em função do aconchego do lugar. É uma terra de paisagens humanizadas, de vida bucólica e de olhares rasteiros, onde a educação e o conhecimento têm seu espaço fecundo na formação pessoal.
Mas a Terra dos Elefantes Coloridos não tinha esse nome não. Tudo começou quando apenas era Terra e não tinha elefantes. Eis que surgiu um novo rei, um rei que veio do povo, que dizia não ter sangue nobre de política, mas já tinha sido quase rei. Um rei que era filho de camponês e cocheiro de diligência, um rei que se propôs mudar a vida do povo, um rei que tinha união como tema pra vencer e foi assim que esse rei sentou no trono. Conclamado pelo povo, o rei Mané, desses que todos conhecem ou já ouviram falar, começou suas aventuras oferecendo pão e circo aos súditos. Era maravilha de se ver, o povo sempre sorrindo e feliz e para aumentar o encantamento o rei teve a idéia de trazer os elefantes. Primeiro nos vilarejos longínquos, para que os súditos, em idade escolar, pudessem praticar esportes. Depois elefantes mais sofisticados que foram colocados na corte do reino. Um elefante bem colorido era para ajudar as mães, pois poderiam deixar seus filhos enquanto trabalhavam, outros dois elefantes foram implantados nas escolas. É fato, que um deles, por ser de proporção gigantesca acabou cedendo e caiu, mas por sorte não havia ninguém por perto e os prejuízos foram só materiais. Houve ainda um elefante preto que permeia as ruelas mais próximas da corte, esse elefante teve um propósito especial facilitar o transito do povo. Um elefante verde foi colocado no Bairro dos Olhos felizes. Disseram que era para a comunidade, mas até o momento tem sido usado para velar os últimos momentos dos súditos que fazem a passagem final.
Embora muitos elefantes façam parte da vida do povo da Terra dos Elefantes Coloridos, há muitos elefantes que ainda estão por vir, afinal o rei Mané é um adepto a elefantes e quer montar uma manada com todos os tamanhos, formas e cores, para que possa ser apreciada por todos de sua terra. Talvez falte espaço público para colocar tantos elefantes, mas isso não será problema, pois o rei Mané já adotou uma medida de segurança e prevenção para garantir as futuras aquisições. Doou aos seus mais próximos e fiéis súditos, estratégicas extensões territoriais urbanas para promover o advento de novos e modernos elefantes.
Mas saibamos guardar segredos, foi devido aos elefantes que me tornei retirante. Com tantos elefantes na Terra diminuiu os espaços das gentes e muitos, como eu, foram compelidos a sair em busca de terras sem elefantes coloridos.

domingo, 15 de agosto de 2010

Texto líquido

Sou uma ritualística consumidora de palavras.
O meu desejo é verbo conjugado em três modos.
Não sou verso de rima pronta
E não quero palavras de sentido opaco...

Que venha com acento agudo
Pois minha boca é seca sem teus verbos
E a minha língua só se lubrifica com seus significados.

Corrompe a gramática,
Ataque a grafia
Desfaça a semântica
E me reescreva de novo.
Porque sou sílaba tônica
Mas devoro os sentidos

Sou feita de incoerências
E transponho a coesão
Com seu texto líquido
Dispenso ponto final
Gisláide Sena